Dólar chegou a ser cotado a US$ 6,20 na terça-feira Imagem: Colin Watts/Unsplash
O dólar comercial atingiu seu maior valor histórico na última segunda-feira (16), ao alcançar R$ 6,09. Na terça-feira, a moeda norte-americana foi cotada a R$ 6,20, e nesta quarta-feira, o valor subiu para R$ 6,26. A pergunta que surge é: por que o dólar continua subindo, mesmo com o Banco Central realizando leilões de venda de dólares? Fatores que explicam a alta do dólar: A desvalorização do real é impulsionada por uma combinação de fatores, segundo Ahmed El Khatib, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fecap. Ele aponta que não há uma única causa para a alta do dólar, mas uma série de fatores que se somam.Um dos principais fatores é a preocupação com os gastos do governo e a sustentabilidade das contas públicas. A falta de medidas concretas sobre cortes de gastos tem gerado desconfiança entre investidores. Além disso, a mudança nas metas fiscais reacendeu temores sobre a capacidade do Brasil de manter a saúde fiscal, o que tem contribuído para a valorização do dólar.No cenário internacional, o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, sinalizou que os cortes nas taxas de juros podem ocorrer de maneira mais lenta do que o esperado, o que afeta negativamente as moedas de mercados emergentes, incluindo o real. O Brasil também enfrenta um crescente déficit em suas contas externas, que atingiu 2,07% do PIB, o que aumenta a pressão sobre a moeda brasileira. Expectativas econômicas e impacto do câmbio. A dificuldade do real em voltar a ser cotado abaixo dos R$ 6 reflete a deterioração das expectativas em relação à economia brasileira, após os anúncios de ajustes nas despesas e propostas de reforma no Imposto de Renda. O Boletim Focus, nas últimas edições, mostrou revisões significativas nos principais indicadores econômicos.Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, também aponta que as intervenções do Banco Central, embora frequentes, têm sido insuficientes para conter a alta do dólar. O BC recorre ao uso de swaps cambiais e ajustes na taxa de juros, mas as cotações do dólar continuam a oscilar, em grande parte devido ao regime de câmbio flutuante adotado pelo Brasil. Nesse sistema, o mercado determina as cotações sem uma meta fixa de valor para a moeda. Volatilidade e saída de capital estrangeiro. Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, explica que as ações do Banco Central visam mais a redução da volatilidade do câmbio e a gestão da saída de capital estrangeiro. Esse movimento não está relacionado apenas ao risco fiscal, mas também a fluxos de empresas americanas enviando seus lucros e dividendos de volta para os EUA, e a empresas brasileiras precisando pagar contratos de serviços no fechamento do ano fiscal. Impactos da alta do dólar para os brasileiros A alta do dólar tem o potencial de impactar significativamente a economia do país. A inflação, especialmente nos preços dos alimentos, deverá ser um reflexo imediato, afetando diretamente a população. Além disso, bens industriais, mesmo quando produzidos no Brasil, são impactados por componentes importados, o que também elevará seus custos, prejudicando o poder de compra dos consumidores.