Mulher é suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada.
Mulher é presa por suspeita de envenenar bolo que matou três pessoas em Torres (RS)
A Polícia Civil prendeu, no domingo (5), Deise Moura dos Anjos, suspeita de envenenar um bolo que resultou na morte de três pessoas da mesma família em Torres, no litoral norte do Rio Grande do Sul. De acordo com o Tribunal de Justiça do estado (TJRS), análises preliminares confirmaram que a mulher realizou buscas na internet sobre arsênio antes do ocorrido. Conforme relatório dos dados extraídos do celular da suspeita, foram identificadas pesquisas no Google, incluindo no Google Shopping, sobre o elemento químico e suas aplicações. O arsênio, substância usada em alguns pesticidas, pode causar intoxicação alimentar, reações alérgicas graves e, em casos extremos, levar à morte. A contaminação com a substância foi confirmada como a causa do envenenamento.
Investigação aponta veneno na farinha
De acordo com Marguet Mittman, diretora do Instituto-Geral de Perícias (IGP), a análise identificou que o arsênio foi misturado à farinha utilizada na preparação do bolo. "As concentrações de arsênio encontradas nas três vítimas eram extremamente altas e letais. Para se ter ideia, 35 microgramas são suficientes para causar a morte de uma pessoa. Em uma das vítimas, a quantidade era 350 vezes maior", explicou Mittman. Os peritos coletaram 89 amostras na residência onde o bolo foi preparado, e apenas a farinha apresentou traços da substância.
"Intenção de cometer o crime"
Segundo o delegado Marcus Vinícius Veloso, responsável pelo caso, as provas indicam que Deise Moura dos Anjos agiu de forma premeditada. "Ela teve a intenção de cometer o crime. Foi um ato doloso, com emprego de veneno", afirmou Veloso. A polícia ainda investiga quem seria o alvo principal do envenenamento, como Deise obteve o arsênio e em que momento ele foi inserido na farinha. A motivação para o crime ainda não foi revelada, pois os investigadores acreditam que a divulgação poderia atrapalhar o andamento do caso.
As vítimas
As três pessoas que morreram após consumirem o bolo foram: Neuza Denize Silva dos Anjos, irmã de Zeli dos Anjos (que preparou o bolo); Maida Berenice Flores da Silva, irmã de Neuza; Tatiana Denize Silva dos Anjos, filha de Neuza. Zeli dos Anjos, que fez o bolo, segue hospitalizada, mas está fora da UTI. Uma criança de 10 anos que também ingeriu o doce recebeu alta na última sexta-feira. O marido de Neuza, que não consumiu o bolo, não apresentou sintomas. Já o marido de Maida chegou a ser hospitalizado, mas também teve alta.
Gosto estranho no bolo
De acordo com o delegado, os presentes notaram um gosto estranho no bolo logo após o consumo. O sabor foi descrito como "apimentado e desagradável". "Zeli percebeu as reclamações e impediu que mais pessoas comessem. Mesmo assim, alguns já haviam ingerido o doce e começaram a passar mal logo em seguida", relatou Veloso.
Prisão temporária e defesa
Deise Moura dos Anjos está detida no Presídio Estadual Feminino de Torres, sob suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e uso de veneno) e tripla tentativa de homicídio. A prisão temporária tem validade de 10 dias, prazo que a polícia utilizará para concluir as investigações. A defesa de Deise informou que prestou atendimento à cliente, mas ainda não teve acesso integral aos autos da investigação.
Sobre o arsênio
Especialistas explicam que o arsênio é altamente tóxico e proibido de ser comercializado no Brasil como raticida. Em raros casos, é usado em tratamentos oncológicos para leucemia, comercializado sob rigorosos controles médicos. Apesar de existir naturalmente em alguns ambientes, a exposição ao arsênio em altas concentrações, como no caso investigado, pode ser fatal.