“Pesquisa (Ipec) sugere que há um espaço crescente para a apresentação de novas lideranças, seja dentro do PT ou em partidos aliados”, resume o cientista político Jorge R. Mizael
Lula enfrenta desafios para 2026, mas tempo ainda joga a seu favor
Com a eleição presidencial de 2026 no horizonte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda tem tempo para recuperar popularidade, mas sua base já demonstra sinais de desejo por renovação, apontam cientistas políticos.Uma pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (14) revelou que a aprovação do governo Lula caiu para 24%, o menor índice registrado em seus três mandatos. Já um levantamento do Ipec, publicado no sábado (15), mostrou que 32% dos eleitores que votaram em Lula em 2022 acreditam que ele não deveria buscar um quarto mandato.
Oportunidade para reverter o cenário
Para Fábio Vasconcellos, doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), os dois anos até a eleição ainda permitem uma recuperação. “Ainda há um governo a ser realizado e um cenário político indefinido. O eleitor sempre compara candidatos no momento da eleição”, explica Vasconcellos, que também é pós-doutorando no projeto ReDem, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Argumentos para a não candidatura
A pesquisa do Ipec apontou as principais razões para a rejeição a um novo mandato de Lula entre parte de seus eleitores de 2022: Idade avançada (31%); Desempenho insatisfatório (27%); Já ter sido presidente três vezes (16%); Necessidade de renovação política (14%). Para Jorge R. Mizael, cientista político e sócio-diretor da Metapolítica, esses dados indicam uma abertura para novas lideranças dentro do PT ou partidos aliados. “Lula não pode ignorar essa demanda por renovação e precisa definir sua estratégia para 2026”, avalia.
Lula mantém cautela sobre candidatura
O presidente tem evitado firmar compromisso com a disputa eleitoral, colocando a saúde como fator determinante. Em entrevista à Rádio Clube do Pará, antes da divulgação da pesquisa Datafolha, Lula afirmou que só será candidato se estiver em boas condições físicas e mentais. “Se eu estiver bem de saúde e com energia, posso ser candidato. Mas minha prioridade agora é governar até 2025”, disse.
Sucessão e o papel de Haddad
Caso Lula decida não concorrer, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é visto como seu possível sucessor. No entanto, o atual desgaste da economia pesa contra sua candidatura. “Lançar um candidato que comanda a economia em um cenário de dificuldades comprometeria o projeto”, alerta Vasconcellos. Para reverter a situação, aliados de Lula defendem medidas para estimular o consumo e melhorar a renda, como a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, prevista para ser enviada ao Congresso após o Carnaval. Rafael Cortez, professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), destaca que Lula III ainda não deixou uma marca forte, diferentemente de seus mandatos anteriores. No entanto, Mizael acredita que o governo ainda possui instrumentos para mudar o cenário. “Se houver melhora nos índices de inflação, crescimento e emprego, Haddad pode ganhar força. Caso contrário, novos nomes surgirão”, afirma.
Comparação com Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) enfrentou uma situação semelhante em 2021, com aprovação de 22% e reprovação de 53% em pesquisas Datafolha. No entanto, em 2022, conseguiu recuperar apoio com a ampliação de benefícios sociais, alcançando 31% de aprovação antes do primeiro turno. Ainda assim, foi derrotado por Lula por uma margem estreita de 51% a 49%. Para Vasconcellos, tanto o governo quanto Haddad precisarão reagir aos números atuais. “A grande questão é: essa reação será suficiente para mudar o quadro?”, finaliza.