Pesquisas indicam que, acima de 35°C, a umidade relativa do ar é crucial. Em condições muito secas, um ventilador pode ser contraproducente.
Ventiladores e estresse térmico: benefícios e limitações
Pesquisas recentes indicam que ventiladores podem aliviar o estresse térmico até certo ponto, mas, em ambientes muito quentes e secos, podem intensificar a sensação de calor. Não há um consenso exato sobre os limites ideais de temperatura e umidade para seu uso seguro, porém, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda evitar o uso do aparelho quando a temperatura ultrapassa 40°C. Dois estudos publicados no final de 2024 analisaram esse tema. Um deles, divulgado pelo The New England Journal of Medicine (NEJM), sugere que ventiladores ajudam a reduzir o estresse cardíaco em idosos sob condições úmidas a 38°C. Já a pesquisa do The Journal of the American Medical Association (JAMA) aponta que o uso do ventilador acima de 35°C oferece poucos benefícios adicionais. O fisiologista térmico George Havenith, da Universidade de Loughborough, destaca que, acima de 35°C, a umidade do ar desempenha um papel crucial. Pesquisadores das universidades de Sydney e Ottawa analisaram diferentes cenários. Em ambientes úmidos (38°C e 60% de umidade), idosos experimentaram uma redução de 31% no estresse cardíaco ao usarem ventiladores, chegando a 55% quando combinados com borrifadas de água. No entanto, em condições secas (45°C e 15% de umidade), os testes foram interrompidos devido ao aumento do estresse térmico. Especialistas argumentam que são necessários mais estudos realizados em ambientes reais, fora de câmaras climatizadas, para avaliar a segurança dos ventiladores. No Brasil, a preocupação com o uso desses aparelhos é menor, pois o clima predominante é úmido, exceto em regiões do semiárido nordestino.
O papel do suor no resfriamento corporal
O clínico intensivista Luis Fernando Correia alerta que crianças pequenas e idosos são mais vulneráveis a ambientes de baixa umidade. Segundo ele, a principal forma de resfriamento do corpo humano é a evaporação do suor. "Se a umidade relativa do ar estiver alta, os ventiladores são eficazes, pois facilitam essa evaporação e ajudam a resfriar o corpo. Porém, em locais secos, o suor evapora rapidamente e o ventilador apenas movimenta ar quente, aumentando a sensação de calor", explica Correia. O cardiologista Sérgio Timerman sugere alternativas como hidratação, ventilação cruzada e ar-condicionado. Para a ventilação cruzada funcionar corretamente, é necessário que haja entradas de ar opostas no ambiente, permitindo a renovação do ar quente por ar mais fresco.Já o professor de biometeorologia Fabio Luiz Teixeira Gonçalves, da USP, esclarece que ventiladores aceleram a troca de calor na pele, intensificando a evaporação do suor e promovendo o resfriamento. "Se a pele estiver quente e úmida, o ventilador facilita a transformação da água em vapor, retirando calor da superfície e proporcionando alívio térmico", afirma Gonçalves. Embora se acreditasse que 35°C fosse o limite seguro para o uso de ventiladores, pesquisas recentes sugerem que a umidade relativa do ar é um fator determinante para sua eficácia. Quando utilizados corretamente, podem ser aliados importantes no conforto térmico, especialmente em locais sem acesso ao ar-condicionado.