Decisão do presidente foi nesta 3ª feira (25.fev); órgão com um dos maiores orçamentos da Esplanada vai para Alexandre Padilha.
Lula Demite Nísia Trindade do Ministério da Saúde; Alexandre Padilha Assume o Cargo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu, nesta terça-feira (25.fev.2025), a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Para substituí-la, o governo escolheu Alexandre Padilha (PT), que deixa o comando da Secretaria de Relações Institucionais (SRI). O cargo de Padilha na SRI pode ser ocupado por Isnaldo Bulhões (MDB-AL) ou Antonio Brito (PSD-BA), ambos com boa relação com o Centrão, grupo com o qual o governo busca fortalecer laços. Outro nome cotado é o do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
Saída de Nísia Trindade
No comando do Ministério da Saúde desde o início do terceiro mandato de Lula, Nísia foi escolhida pelo presidente devido à sua atuação na presidência da Fiocruz (2017-2022) e ao apoio de figuras como o médico Roberto Kalil Filho e o próprio Alexandre Padilha. Durante a pandemia de covid-19, teve papel relevante ao coordenar o acordo com a Universidade de Oxford para a produção da vacina da AstraZeneca no Brasil, além de liderar um observatório de monitoramento epidemiológico da doença. Apesar do histórico positivo, a gestão de Nísia foi alvo de críticas crescentes dentro do governo. Um dos principais pontos de insatisfação foi sua condução na vacinação contra a dengue, doença que registrou recorde de casos e mortes no Brasil em 2024. A lentidão na aquisição e distribuição dos imunizantes pesou contra a ministra, assim como falhas na confirmação de óbitos causados pela doença. Outro fator determinante para sua saída foi a gestão da vacinação contra a covid-19. O governo desperdiçou aproximadamente R$ 260 milhões na compra de doses da CoronaVac no fim de 2023, quando o imunizante já estava desatualizado para as novas variantes. Além disso, cerca de 8 milhões de doses perderam a validade, agravando as críticas sobre a administração dos estoques. Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), também houve escassez de vacinas básicas, como as de varicela, sarampo, caxumba e rubéola, em grande parte das cidades brasileiras. O programa Mais Acesso a Especialistas, que deveria ser uma marca do terceiro governo Lula, também gerou atritos. Durante uma reunião ministerial em janeiro de 2025, as burocracias apresentadas por Nísia e a discussão sobre o nome do programa desagradaram o presidente.
Falta de Articulação Política
A dificuldade de Nísia em dialogar com diferentes espectros políticos foi outro fator que motivou sua demissão. O Centrão busca maior influência sobre o orçamento da Saúde, um dos maiores da Esplanada, e sua saída abre caminho para negociações mais fluidas com o grupo. Embora não fosse filiada a nenhum partido, grande parte da equipe de Nísia possuía ligações com o PT. Com a chegada de Padilha, o governo espera uma gestão mais alinhada politicamente, já que o novo ministro tem proximidade com Lula e experiência em articulação.
Lula e a “Fala Grossa”
A saída da ministra também ocorreu em meio a divergências na comunicação do governo. Em declarações recentes, Lula criticou Nísia por não falar “grosso” o suficiente à frente do Ministério da Saúde. A ministra teria respondido que esse não era seu perfil por ser mulher. O episódio ocorreu um mês após Nísia se emocionar ao discursar sobre o combate à dengue, quando afirmou estar enfrentando “fogo amigo” dentro do governo. A relação entre Lula e a ministra já havia sido marcada por cobranças anteriores, como na reunião ministerial de março de 2024, em que ela foi criticada por: Lançar a campanha de vacinação contra a dengue sem doses suficientes; - O aumento das mortes entre os Yanomami; - Denúncias de negligência em hospitais federais no Rio de Janeiro; Publicação de nota técnica sobre aborto legal sem consulta a todos os setores do governo. Com Alexandre Padilha no comando da pasta, o governo busca maior eficiência na execução de políticas públicas e uma relação mais estável com o Congresso.