Brasil ganha vantagem sobre concorrentes asiáticos com novas tarifas, mas analistas alertam para possível queda na demanda por causa do encarecimento da bebida
As novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros podem ter efeitos contraditórios para o café nacional. Por um lado, o Brasil pode ampliar sua presença no mercado americano, seu principal destino de exportação. Por outro, o aumento dos custos pode reduzir o consumo da bebida no país.
A partir deste sábado (5), produtos brasileiros passam a ser taxados em 10% ao entrarem nos EUA. Até então, o café verde, principal item da pauta exportadora do setor, era isento. A medida faz parte de um tarifaço anunciado por Donald Trump, que voltou à presidência com uma agenda protecionista.
Para Fernando Maximiliano, analista da consultoria StoneX Brasil, a taxação não é positiva em si, mas o Brasil acabou sendo menos atingido que outros concorrentes. Vietnã e Indonésia, por exemplo, sofreram aumentos muito mais pesados, de 46% e 32%, respectivamente. Já a Colômbia, outra forte exportadora de arábica, também recebeu tarifa de 10%.
Os EUA não produzem café em volume relevante e dependem das importações. “Eles só industrializam. A produção interna é quase irrelevante, com poucas fazendas”, afirma Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Atualmente, o Brasil lidera o fornecimento de café aos americanos, com 32% de participação no mercado, seguido por Colômbia (20%), Vietnã (8%) e Honduras (7%), segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Embora o café arábica seja o mais exportado pelo Brasil, o robusta também tem ganhado espaço. Em 2024, foram 690 mil sacas exportadas, num total de 7,3 milhões.
Segundo Maximiliano, o robusta é justamente onde está a maior oportunidade de crescimento. Em 2024, os EUA importaram 1,5 milhão de sacas do Vietnã e 640 mil da Indonésia. Com o novo cenário, o café asiático tende a perder competitividade, o que pode abrir espaço para o Brasil.
Apesar disso, especialistas alertam para um possível efeito negativo: o aumento de preços no mercado americano. “O custo vai subir para a indústria nos EUA e, inevitavelmente, para o consumidor”, diz Matos. Ele lembra que o café tem penetração altíssima no país, sendo consumido por 76% da população.Marcos Jank, professor do Insper, reforça essa preocupação.
“Com tarifas que chegam a mais de 50% em alguns produtos, é natural esperar um desarranjo nas cadeias produtivas, aumento de custos e, possivelmente, de preços. Isso pode levar a mais inflação e à queda do consumo, inclusive do café”, conclui.